quinta-feira, 25 de outubro de 2012

E essa rua e tudo mais foi de todos!


      
            O movimento segue seu ritmo implacável de quase fim de tarde, fim de expediente. Entre prédios, pontos de ônibus, árvores, barulhos do trânsito, comércios e pessoas que passam, o SE ESSA RUA FOSSE MINHA escolhe sua cena, ao mesmo tempo em que é escolhido por seu público.
            De repente uma quebra. O caos estagna, olha e questiona: por que aqui? O que este bando de gente faz no meio da praça? É trabalho do colégio? Que safadeza é essa? Ei, posso vender lanche enquanto eles apresentam? Pode! Afinal, o espaço é de todos, é a rua. Não existe cenário montado, linha divisória que demarque quem fica de qual lado e assume quais funções. Deste modo tudo que é interferido pelos experimentos interfere também neste.
            O público começa a se reconhecer, chega aos poucos para mais perto ou observa de longe mesmo. Às vezes percebe que faz parte daquilo também, interage. Os mais desconfiados preferem passar rápido, nem olham direito, talvez pelo medo de se encontrar em alguma coisa. No entanto, mesmo estes compõem a cena, somam suas angustias, pressa para chegar a algum lugar. Não são alheios ao acontecimento, porque este não cobrou nenhuma reação já pré-determinada de seus espectadores, assim cada ação particular dos transeuntes transforma o canário e os artistas.
             É hora de deixar o que já foi construído em algum canto da cidade. O cenário muda, onde é a próxima apresentação? Segue o movimento para conquistar outro espaço, outras pessoas... E tudo recomeça, mas de forma completamente diferente. O novo momento exige atenção de outro público, aborda algo diferente, coisas que são ignoradas agora reclamam seu espaço. Não existe rotina de apresentação, mas existe uma sequência que é ação contínua. A intenção não é permanecer, fazer parte do quadrado dos dias, bem como não se define também por simplesmente impactar. É estabelecer relações entre os comuns que não são vistos e por isto ficam a margem.
            O Coletivo Trippé ousou parar em locais que são passagens, partes do caminho e não seu local final. E o que fica quando tudo acaba e as pessoas voltam a seus afazeres? O que fica de tudo isto que passa e acaba? Tudo que foi construído ou desconstruiu, não no exterior e que certamente teria que ser removido em algum momento, mas o que foi transformado no interior de cada pessoa que parou sequer um instante e questionou o que estava acontecendo, repugnou e/ou amou. O que se tornou inquietude, o que fez quem esperava o ônibus virar a cabeça não para ver se o transporte já vinha, mas para olhar, então o esperar vira um Poxa, bem que podia demorar mais um pouquinho pra eu saber o que é isto ou Por que mesmo eles estão aqui na rua e não no teatro? Algo que desperte uma nova visão sobre a cidade e seus habitantes (artistas que estão naquele instante no palco ou não), certamente deixará mais do que marcas, questionamentos entre como estamos vivendo e de como gostaríamos de viver.

Fotos e texto por Clube Virabólica

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