O movimento segue seu ritmo implacável de quase fim de
tarde, fim de expediente. Entre prédios, pontos de ônibus, árvores, barulhos do
trânsito, comércios e pessoas que passam, o SE ESSA RUA FOSSE MINHA escolhe sua
cena, ao mesmo tempo em que é escolhido por seu público.
De repente uma quebra. O caos estagna, olha e questiona:
por que aqui? O que este bando de gente faz no meio da praça? É trabalho do
colégio? Que safadeza é essa? Ei, posso vender lanche enquanto eles apresentam?
Pode! Afinal, o espaço é de todos, é a rua. Não existe cenário montado, linha
divisória que demarque quem fica de qual lado e assume quais funções. Deste
modo tudo que é interferido pelos experimentos interfere também neste.
O público começa a se reconhecer, chega aos poucos para
mais perto ou observa de longe mesmo. Às vezes percebe que faz parte daquilo
também, interage. Os mais desconfiados preferem passar rápido, nem olham
direito, talvez pelo medo de se encontrar em alguma coisa. No entanto, mesmo
estes compõem a cena, somam suas angustias, pressa para chegar a algum lugar.
Não são alheios ao acontecimento, porque este não cobrou nenhuma reação já
pré-determinada de seus espectadores, assim cada ação particular dos
transeuntes transforma o canário e os artistas.
É hora de deixar o
que já foi construído em algum canto da cidade. O cenário muda, onde é a
próxima apresentação? Segue o movimento para conquistar outro espaço, outras
pessoas... E tudo recomeça, mas de forma completamente diferente. O novo
momento exige atenção de outro público, aborda algo diferente, coisas que são
ignoradas agora reclamam seu espaço. Não existe rotina de apresentação, mas
existe uma sequência que é ação contínua. A intenção não é permanecer, fazer
parte do quadrado dos dias, bem como não se define também por simplesmente
impactar. É estabelecer relações entre os comuns que não são vistos e por isto
ficam a margem.
O Coletivo Trippé ousou parar em locais que são
passagens, partes do caminho e não seu local final. E o que fica quando tudo
acaba e as pessoas voltam a seus afazeres? O que fica de tudo isto que passa e
acaba? Tudo que foi construído ou desconstruiu, não no exterior e que
certamente teria que ser removido em algum momento, mas o que foi transformado
no interior de cada pessoa que parou sequer um instante e questionou o que
estava acontecendo, repugnou e/ou amou. O que se tornou inquietude, o que fez
quem esperava o ônibus virar a cabeça não para ver se o transporte já vinha,
mas para olhar, então o esperar vira um Poxa,
bem que podia demorar mais um pouquinho pra eu saber o que é isto ou Por que mesmo eles estão aqui na rua e não
no teatro? Algo que desperte uma nova visão sobre a cidade e seus
habitantes (artistas que estão naquele instante no palco ou não), certamente
deixará mais do que marcas, questionamentos entre como estamos vivendo e de
como gostaríamos de viver.
Fotos e texto por Clube Virabólica
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